Um dos maiores escândalos de corrupção da política paraense nos últimos anos tem como epicentro o município de Marituba, na Região Metropolitana de Belém. A vice-prefeita Bárbara Marques (MDB) foi alvo nesta quinta-feira (9), de uma operação deflagrada pela Polícia Federal, sob suspeita de participação em um esquema de fraudes em licitações, desvios de recursos públicos da saúde e educação, corrupção e lavagem de dinheiro.
A ação é parte da segunda fase da Operação Expertise, deflagrada pela PF com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU). O prejuízo estimado aos cofres públicos chega a R$ 200 milhões. A investigação mira uma organização criminosa que teria desviado recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do Fundo Nacional de Saúde (FNS) por meio de empresas de fachada, contratos superfaturados e pagamentos ilícitos a servidores públicos.
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão, prisão preventiva, afastamentos cautelares, bloqueios de bens e quebra de sigilos bancários. Segundo a PF, um dos investigados foi flagrado entregando dinheiro em espécie a um agente público dentro de um órgão da administração municipal.
Após a ação contra a vice-prefeita, a prefeita de Marituba, Patrícia Alencar (MDB), aliada do governador Helder Barbalho, anunciou a exoneração de Bárbara Marques do cargo de secretária municipal de Educação. No entanto, como o cargo de vice-prefeita é eletivo, a ação contra ela não implica perda imediata do mandato.
Esquema milionário e rede de influência
A operação revelou um complexo esquema de corrupção envolvendo empresários, servidores municipais e estaduais, e altos cargos do governo paraense. Entre os alvos, estão nomes ligados à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), ao Detran/PA e à Polícia Científica do Estado.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), empresas como a Líder Engenharia Ltda., Max Empreendimentos, Fortes Comércio e Serviços Ltda. e Brasil & Brasil Ltda. eram usadas para movimentar e lavar o dinheiro desviado. As companhias recebiam repasses milionários, mas funcionavam em endereços simples e com pouca ou nenhuma estrutura compatível com o volume de recursos administrados.
O suposto líder do grupo, Jacélio Faria da Igreja, dono da Líder Engenharia, foi identificado como o responsável pela entrega direta de propinas a servidores públicos e pelo controle financeiro das operações fraudulentas.
Entre os investigados também estão Renata Mirella Guimarães de Souza Coelho, diretora-geral do Detran/PA, e seu marido, Ulysses de Souza Coelho, sócio de uma construtora que teria movimentado valores incompatíveis com sua capacidade operacional.
Apreensões e indícios
Durante as buscas, a PF apreendeu joias, equipamentos eletrônicos, dezenas de notas de R$ 200, e nove veículos, alguns de luxo. Os investigadores apontam que parte do dinheiro era sacada em espécie e redistribuída entre os participantes do esquema para dificultar o rastreamento da origem dos valores.
As autoridades classificam o caso como um dos maiores esquemas de corrupção já descobertos no Pará, com ramificações que atingem diversas esferas do poder público e empresas contratadas por prefeituras e órgãos estaduais.
Impacto político
A prisão da vice-prefeita de Marituba representa um duro golpe na administração municipal e gera constrangimento ao MDB, partido do governador Helder Barbalho. A oposição já cobra explicações sobre o envolvimento de gestores ligados ao governo em contratos fraudulentos e operações suspeitas.
Enquanto isso, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal seguem analisando documentos, transações bancárias e registros fiscais que podem revelar novos nomes e conexões dentro da estrutura de desvio de recursos públicos no Pará.
“Trata-se de uma organização criminosa complexa, com ramificações em diversos órgãos e forte atuação na manipulação de contratos públicos”, afirmou um dos investigadores.
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