Na manhã desta terça-feira (8), a Polícia Militar deu início ao cumprimento de um mandado de reintegração de posse em uma área localizada nas proximidades da Serra do Saubal, em Santarém, no oeste do Pará. A operação tem como objetivo a retirada de dezenas de famílias que ocupam o terreno, de propriedade privada. Os moradores já haviam sido notificados previamente sobre a desocupação voluntária.

A ordem judicial para a reintegração, citação e intimação foi dada pelo juiz Comes Ferreira Neto, da 4ª Vara Civil e Empresarial de Santarém.

Segundo o comandante da operação, coronel Hilton, a ação começou por volta das 6h da manhã, com a presença de oficiais de justiça. No local, houve resistência por parte de moradores, que questionaram a ausência de novas ordens judiciais e se recusaram a desocupar as residências. Após tentativas de negociação, a Polícia Militar utilizou equipamentos de menor potencial ofensivo para desbloquear as vias ocupadas.

“A população resistiu, jogou pedras e se negou a abrir passagem. Foi necessário o uso de gás e munições não-letais. Felizmente, não houve feridos, nem entre os manifestantes, nem entre os policiais. A situação está, neste momento, sob controle”, explicou o coronel Hilton.

Famílias denunciam falta de política habitacional e promessas não cumpridas

Durante a reintegração, moradores expressaram indignação e revolta com a situação. Muitos afirmaram viver há meses no local e disseram não ter outro lugar para morar. Algumas casas já estavam construídas, com móveis e utensílios que agora precisam ser retirados às pressas.

“Tem gente que está aqui há oito meses, com casa feita, móveis dentro, crianças morando. É triste demais. Essa área estava sem uso. Era só fazer a desapropriação. Falta vontade política", desabafou um morador.

O clima ficou ainda mais tenso com denúncias de que, durante a campanha eleitoral de 2024, políticos locais visitaram a área e prometeram buscar a regularização fundiária. Nomes como o do atual prefeito Zé Maria Tapajós, do ex-prefeito Nélio Aguiar e de vereadores foram mencionados por moradores como autores de promessas não cumpridas.

“Vieram aqui, pediram votos, gravaram vídeo, prometeram desapropriação. Hoje, esse povo está sendo despejado e ninguém aparece nem pra mandar uma caçamba ajudar no transporte dos móveis. Isso é estelionato eleitoral", criticou o ex-vereador JK do Povão que acompanhou a reintegração.

Outro ponto levantado por lideranças locais é a falta de transparência na destinação de terrenos em Santarém. De acordo com denúncias feitas no local, haveria favorecimento a pessoas com maior poder aquisitivo para regularização de terrenos, enquanto famílias de baixa renda permanecem à margem do acesso à moradia digna.

“Existe um comércio de terra escancarado em Santarém. Quem tem dinheiro consegue documento dentro da prefeitura. O pobre não tem vez. É por isso que precisamos de uma CPI da terra. É urgente investigar esse esquema”, disse o ex-parlamentar.

Até o momento da publicação desta matéria, nenhum representante do executivo ou legislativo municipal esteve presente na área para prestar apoio aos moradores ou esclarecer a situação. A operação seguiu com apoio logístico da Polícia Militar, que fez o acompanhamento da retirada dos pertences dos ocupantes da área.